Inúmeros casos poderiam ser citados como prova de sua ação beneficente em favor dos necessitados. Seria no entanto fastidiosa a repetição dos mesmos gestos de profunda elegância moral do apóstolo. Porque os gestos, de fato, se repetiam com uma constância enternecedora.. Entretanto, citaremos somente alguns dos inúmeros casos que marcaram a personalidade desse bendito apóstolo do bem.
1. Quando Bezerra, por exemplo, era ainda presidente de uma companhia de carris, deixava certo dia os escritórios da mesma, na Rua Sete de Setembro. Seis horas da tarde; como dirigente escrupuloso, era sempre o último a sair, após assistir ao fechamento das portas do escritório.
Dispunha-se a descer a via pública, rumo ao largo de São Francisco de Paula, onde iria tomar o bonde para a Tijuca. Já na calçada, Bezerra encontrou um velho conhecido, que o abordou nervoso e trêmulo. - Que é isso meu caro? Que sucedeu? O homenzinho, com a fisionomia transtornada e angustiosa, contou que havia acabado de perder seu filho e que, desempregado e desprovido de recursos, vinha precisamente para falar ao velho amigo.
Bezerra não pediu mais explicações. Chamou-o para o desvão de uma porta, enfiou a larga mão ossuda na algibeira da calça e sacou da carteira. Toma, meu "velho". Leva, leva isto. É tudo o que eu tenho no momento. Espera; ainda há mais! E vasculhou os bolsos do colete de onde retirou alguns níqueis. O infeliz relutou. Mas Bezerra meteu-lhe a carteira e as moedas no bolso do casaco e, sem mais conversas, ganhou a rua.
Com lágrimas nos olhos o amigo se despediu. Quanto havia na carteira? Nem mesmo Bezerra o sabia; nem lhe importava saber. Desceu a Rua Sete de setembro e chegou ao largo. Já instalado no bonde, com o jornal aberto sobre os joelhos, meteu os dedos nos bolsos do colete e só então se lembrou de que lá não existia uma moeda sequer! Calmamente saltou e se dirigiu a uma casa conhecida, onde foi pedir, pelo menos, os trezentos réis da passagem...
2. O conhecido homeopata achava-se certa manhã nevoenta e penumbrosa, em seu pequeno consultório na Farmácia Cordeiro, à Rua 24 de Maio, na estação do Riachuelo. Fora, na estreita sala de espera, acotovelava-se a miséria do bairro. Mulheres emagrecidas pelo esforço contínuo e brutal dos trabalhos mais pesados sustinham nos braços crianças descarnadas. Homens do povo, proletários infelizes e sem recursos, encostavam-se às paredes, no esforço de disfarçarem a própria fraqueza, oriunda de prolongado estado de desnutrição.
Bezerra de Menezes, pacientemente, com aquele olhar de apóstolo, fazia entrar um por um, no consultório. Com palavras de doce mansuetude animava a todos, após a consulta terminada, despachadas gratuitamente. Porque ele não cobrava mesmo, fosse o que fosse, à sua clientela pobre. Pobre ou rica. Os que podiam davam-lhe aquilo que bem entendessem. Naquela manhã, no entanto, apenas as mãos da miséria se estendiam para o clínico.
Em dada ocasião, penetrou no consultório uma pobre mulher, com uma criança embrulhada, nos braços. Sentou-se e apresentou o filhinho. Seu aspecto, de profundo desalento, traduzia o drama horrível das vidas cujo corolário é a provação miserável.
Bezerra auscultou a criança; indagou dos sintomas mais elucidativos da moléstia; em seguida receitou. Volte para casa, minha filha, e dê ao menino estes remédios, de hora em hora. Compre-os aqui mesmo se quiser... A mulher desandou a chorar...Comprar, doutor.... Comprar com o quê?... Não tenho nem pão para dar a meu filho...
Bezerra descansou sobre a infeliz seus olhos mansos. Devia ser assim o olhar de Jesus Cristo quando fitava os miseráveis. Não se aflija, minha filha. Vou ajudá-la. Nós estamos no mundo para sofrer com os nossos irmãos das suas dores... E procurava pelos bolsos do casaco o dinheiro que porventura lá houvesse. Mas não havia nenhum.
O último fora dado ao cliente anterior... Remexeu em todas as algibeiras, com uma esperança secreta. Tudo em vão. Pôs-se então a pensar. Diante dele soluçava a imagem viva da "mater dolorosa". Os pensamentos turbilhonavam no cérebro do apóstolo. E foi com o olhar turbado pela névoa de uma profunda mágoa que ele fitou a sua mesa de trabalho, os velhos livros empilhados no armário, os papéis e a caneta, volteando entre os dedos. De repente, a um movimento da mão, a esmeralda do seu anel de médico desprendeu um brilho estranhamente verde.
Verde... esperança... E ao brilho da pedra, seguiu-se o brilho de contentamento do olhar do médico. Enquanto a mãe soluçava, Bezerra sorria. Mansamente, vagarosamente, puxou o anel do dedo. Virou-o, entre os dedos longos, afundando o olhar no mistério verde daquela pedra, engastada no ouro farto do aro. Seu anel de formatura! Viu dentro dele, em um instante, todo o seu longo e porfiado esforço para alcançar o direito de usar aquele emblema.
Quanta luta! Quanta canseira! E sentiu uma satisfação de o poder empregar na ação mais humanitária que Deus lhe proporcionara na vida. Intimamente, agradeceu a lembrança daquele momento; voltou-se para a infeliz. – Toma, minha filha, leva isto para casa. Poderás comprar leite, remédio e mais alguma coisa para o teu filhinho. A mulher, vendo o anel que brilhava na palma de sua mão, com os olhos atônitos e abertos, não sabia o que pensar. O médico não lhe deu mesmo tempo para tanto. Já de pé, convidava-a a deixar a sala. Impelida pela mão bondosa do clínico, a pobre mãe deixou o consultório. Quando se voltou para agradecer, pôde ouvir apenas a sua voz apostolicamente mansa: - Entre, aquele que estiver em primeiro lugar. E a porta do consultório tornou a fechar-se.
3. Sua família, no entanto, sofria o reflexo do altruísmo de seu chefe. É que Bezerra nada cobrava aos seus clientes. Como bem vimos, não só se esquivava a receber; despojava-se ainda dos últimos níqueis, em favor dos pobres. Diante da situação aflitiva que se esboçava, tornando a vida insustentável, em casa sua esposa decidiu agir. A companheira do médico foi procurar o amigo Cordeiro. Expôs-lhe os motivos da sua atitude. Cordeiro surpreendeu-se com o relato. Não sabia, segundo ele próprio confessou, que a vida do seu amigo estivesse a tal ponto comprometida. Cordeiro tentou resolver o problema da seguinte forma: cobraria as consultas de Bezerra, mas só àqueles que estivessem em condições de pagar. E mesmo assim, estabeleceu o preço mais baixo possível: cinco mil réis.
4. Leopoldo Cirne, que privou com Bezerra de Menezes, tomando parte em seus trabalhos práticos, na Federação Espírita Brasileira, da qual era vice-presidente, recorda-nos fatos muito sugestivos (dos quais destacaremos este): "É um fato em sessão realizada para a cura da obsessão que vinha padecendo uma pobre moça. Bezerra de Menezes, com eloqüente e persuasiva dialética, pusera em ação todos os recursos do seu altíssimo sentimento, convidando o espirito obsessor a renunciar aos seus funestos propósitos de vingança, e, tão paternal e amorosamente se esforçava pelo convencer, que afinal, desarmado de seu ódio, tocado em sua sensibilidade, o obsessor explodiu nesta comovida e sincera confissão: "Velhinho Santo, o que me convenceu não foram as suas palavras: foi o seu sentimento!" E a cura de fato se consumou".
5. Um amigo certa feita perguntou a Bezerra de Menezes, se gostava de música... - É o maior encanto para mim, a música... - E por que não vais à companhia lírica? A temporada tem estado brilhante! - Não posso; os meus doentes não me dão tempo de ouvir as harmonias líricas. -Mas, assim, em pouco estarás embrutecido. -Nem tanto, meu amigo. Isto me traz a vantagem de ouvir as harmonias do coração, que é a música mais bela que há no mundo.
Seu espírito foi recebido na Espiritualidade com hosanas e graças. Falanges e falanges de espíritos amigos fizeram um verdadeiro corredor, onde Bezerra de Menezes era consagrado espiritualmente como um apóstolo do bem. Ismael, patrono espiritual do Brasil, veio recebê-lo.
Teve permissão para ser encaminhado a esferas ainda mais evoluídas, quando de joelhos efetuou uma prece fervorosa a Virgem Maria, sua madrinha, solicitando autorização para poder continuar sua obra em favor dos enfermos e necessitados: Finalizou: " Enquanto na Terra existir um único irmão em dor e sofrimento, eu solicito a devida permissão de continuar meu trabalho, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo".
Hoje, no Planeta Terra, sua obra está em todos os locais, Orfanatos, Asilos, Hospitais, Casas de Socorro , Albergues, Centros Espíritas, Casas de Orações.
No dia 07 de janeiro de 1965, aceitou ser o Patrono Espiritual do Centro Espírita "Cantinho de Paz, Luz, Esperança e Caridade", bem como de suas filiais, denominadas: "Lar de Socorro Espiritual Bezerra de Menezes," e "Lar Bezerra de Menezes, para Idosas". Neste Centro Espírita, ele finalmente conseguiu manter seu ideal,seu sonho que fôra a Unificação das Correntes Espíritas, sem preconceitos, todas unidas trabalhando em prol da caridade espiritual e da filantropia humana.
Até a presente data, Ele continua orientando os destinos desta Casa de Caridade, onde é praticado o Espiritismo Cristão Unificado, através de sucessivas mensagens que norteiam toda a organização, efetuando, através de diversos cursos, uma escola mediúnica, preparando Obreiros e Seareiros para a vinha do Senhor.
Autores Consultados:
• Canuto Abreu
• Francisco Acquarone
• Francisco Cândido Xavier
• Freitas Nobre
• Grupo C.P.L.E.C.
• Grupo Ismael
• Ramiro Gama
• Sylvio Brito